Pode uma planta ter
consciência dos animais? Ou ela passa a vida inteira sem saber que existe um
mundo exterior a ela, com animais, outras plantas, rochas, etc?
Recentemente, uma
pesquisa científica descobriu algo surpreendente: algumas espécies de plantas
conseguem se comunicar com outras plantas, por meio de uma rede de raízes que
se tocam. Mas ainda assim, se pararmos para pensar, uma planta tem pouca
consciência de seu mundo, perigos eminentes e mudanças de ambiente: sua
consciência vem tão somente do sentir as reações de suas células, ao ambiente.
Por exemplo, imagine
que um broto de feijão foi, certa vez, pisoteado, mas ainda assim sobreviveu.
Para ele, o que ocorreu foi apenas um evento aleatório que lhe prejudicou, sem
nem mesmo ter ciência de sua própria existência física, nem de seus ramos terem
entortado. Simplesmente estava tudo bem quando, inexplicavelmente, algo ruim
lhe aconteceu.
Um vegetal não
consegue tentar dar sentido causa-efeito às situações que lhe ocorrem (a busca
incessante de padrões causa-efeito, até hoje, foi encontrada apenas na raça
humana). Se o fizesse, poderia rapidamente imaginar que, por exemplo, a
sensação do pisoteamento é mais recorrente em dias que se absorve mais água
(pois choveu), ou mesmo incoerentemente ligar a causa como alguma de suas
atitudes – ter se virado pouco para a luz, por exemplo – para dar sentido aos
acontecimentos (tais quais algumas crenças e religiões nossas o fazem).
Após esta introdução,
vamos a uma analogia: se um ser vivo, como a planta, está vivendo a vida toda
tendo apenas consciência de uma ínfima parte do que existe ao redor dela, e se
a cada vez que descobrimos algo sobre o que achávamos enorme em nosso cosmo,
descobrimos que tal "enorme" é apenas uma parte semi-infinitamente
pequena de algo ainda maior, por qual motivo nós, humanos, não podemos também
estar vivendo em uma realidade que é a ínfima parte de uma realidade ainda
maior (assim como a planta inserida em nossa realidade)? E que algumas coisas
que subitamente nos ocorrem sem explicação científica (angústia, cânceres, sensações,
palpites, surgimento de idéias, e alguns fenômenos observáveis julgados como
“sobrenaturais”) possam ser originadas nesta realidade a que não temos acesso
em intervir, mas que constantemente intervenciona em nossas vidas?
Ousando um pouco e
indo para um lado mais “místico”, quem sabe nossos denominados deuses, anjos da
guarda, espíritos, elementais, sejam entidades reais, para nós ultrapoderosas
pelo fato de controlarem totalmente a realidade que estamos inseridos
(exatamente do modo como podemos fazer com as plantas), que habitam uma
realidade “acima” da nossa?
Quem sabe Platão, ao
falar do mundo das idéias, não falava de um vislumbre desta outra realidade
inacessível? E que, nesta outra realidade, não passamos de meras plantinhas,
inertes em relação ao modo com que os seres por lá se movem, sentem e vivem?
Estaríamos então, nesta outra realidade, em um estado a que chamaríamos por
aqui de “vegetativo”, ou seja, sem podermos influenciar nada, sem termos
consciência de quase nada, ainda que influenciados diretamente por seus
elementos.
E que alguns (alguns)
de nossos místicos e clérigos, que sempre julgamos como loucos, não estejam
errados em buscar causas sobrenaturais naquilo que a ciência não explica. E por
isso tais explicações, inexplicavelmente, funcionam.
Daí, provavelmente,
concebemos a ideia de “sobrenaturalidade”, e cunhamos tal palavra: para
descrever as coisas que existem além da realidade que conscientizamos, além do
nosso natural, em uma realidade que é inacessível – a nós.